IPEA, FAO, IBGE: dados, estatísticas, erros e desinformação

Há alguns meses, o IPEA foi protagonista de uma situação constrangedora: divulgou uma pesquisa sobre estupro que causou uma repercussão imensa. A pesquisa, descobriu-se pouco tempo depois, estava completamente errada. Não se tratou de um ou dois errinhos, não; eram erros tão amplos, crassos e profundos que o melhor a fazer era jogar toda a pesquisa no lixo e fingir que aquilo jamais aconteceu.

Há poucos dias, veio à tona um estudo da FAO (órgão inútil da ONU presidido por um petista) que também estava baseado em dados falsos. Sobre isso, aliás, eis aqui um vídeo curtinho, claro, objetivo e altamente revelador:

Como sempre acontece, esse tipo de notícia vira base para que alguns ignorantes, que não entendem nada de dados e metodologia de pesquisas, soltem suas bobagens:

Hoje tivemos a cereja do bolo: o IBGE divulgou nota oficial e convocou coletiva de imprensa para avisar que os dados da PNAD que haviam sido divulgados ONTEM continham erros tão graves que, após revisados, alterariam sobremaneira grande quantidade das conclusões apresentadas ontem à imprensa.

Esse tipo de ocorrência é grave, séria.

Uma coisa é um(a) candidato(a) dizer coisas diferentes em momentos diferentes – vejamos, por exemplo, Dilma Rousseff, que em 2010 era favorável à autonomia do Banco Central, mas em 2014 está produzindo mentiras sobre o assunto em virtude da posição da Marina Silva:

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Infelizmente, como imensa maioria da população tem memória fraca e pouco conhecimento sobre 90% dos assuntos econômicos, esse tipo de vai-e-vem de opiniões é comum entre candidatos (a qualquer cargo, registre-se).

Outra coisa, completamente diferente, é vermos órgão estatais ESPECIALIZADOS no assunto cometendo barbeiragens como esta do IBGE, do IPEA ou da FAO.

A despeito de achar que 90% das colunas do José Roberto de Toledo (do Estadão) merecem no máximo a lata do lixo, nesta ele acertou (íntegra AQUI):

Não há hora certa para fazer bobagem, mas não poderia ter sido pior o momento para o IBGE errar como errou na divulgação da PNAD 2013. Imediatamente o instituto virou matéria prima para teorias da conspiração eleitorais. “Maquiagem” foi a palavra da hora nas redes sociais. Mas foi só incompetência mesmo.
O ônus de admitir um erro dessa magnitude na reta final da sucessão presidencial é tão grande que só uma “maquiagem” completa para embelezar os indicadores poderia justificá-lo. Não foi o que aconteceu. Vários indicadores ficaram mais feios.
A renda, por exemplo, cresceu só 3,4% de 2012 para 2013 – muito menos do que os 5,1% divulgados na véspera. O analfabetismo caiu menos ainda (0,2 ponto, e não 0,4), a média de anos de estudo da população foi de 7,5 para 7,6 e não para 7,7 como se pensava.
O que não ficou mais bonito tampouco ficou menos feio: a taxa de desemprego nacional cresceu mesmo, de 6,1% em 2012 para 6,5% em 2013. Se fosse para fazer uma cirurgia plástica nos dados, esse teria sido um número a sofrer lipoaspiração.
Um dos poucos indicadores que melhorou foi o da desiguldade medida pelo índice de Gini. Quanto menor, melhor. E o Gini de todas as fontes de renda caiu de 0,505 para 0,501 (antes de o erro ser detectado, tinha ficado igual). E o Gini da renda de todos os trabalhos foi de 0,496 para 0,495 – em vez de 0,498. Ou seja, não virou nenhuma Gisele Bundchen estatística.
Qual foi o erro, então? A PNAD não é uma simples amostra da população brasileira. Ela é uma série de amostras estaduais e regionais que depois são combinadas à amostra nacional. O IBGE faz isso para poder extrapolar os resultados por região metropolitana, por exemplo. É uma prática comum em pesquisas.
Em eleição os institutos fazem isso quando querem pesquisar a intenção de voto nacional para presidente e, ao mesmo tempo, saber como os paulistas vão votar para governador, por exemplo. Amplia-se o tamanho da amostra em São Paulo apenas, para aumentar a confiabilidade dos dados. Mas na hora de calcular a taxa de intenção de voto para presidente em todo o Brasil, faz-se uma regra de três para dar o peso correto à amostra paulista.
Segundo o IBGE, alguém esqueceu de fazer isso com as amostras das regiões metropolitanas de vários Estados. Assim, elas ficaram com um peso desproporcionalmente grande na amostra do Brasil – por isso os dados educacionais pareciam melhores do que eram de fato, já que a escolarização é maior nas metrópoles.
Apesar de tudo, foi importante o IBGE ter admitido o erro e publicado os resultados certos com clareza – comparando-os aos errados, para todo mundo saber onde estavam os problemas. A PNAD é o melhor termômetro do que acontece com o Brasil. Sem saber se há febre ou não, é difícil acertar o diagnóstico e o remédio.
O erro amassou a reputação do IBGE, mas reconhecê-lo de pronto era a coisa certa a fazer. Maquiagem seria tentar escondê-lo.

Claro que surgirão teorias da conspiração e questionamentos sobre a lisura do IBGE. É do jogo.

Ao mesmo tempo, em virtude da postura totalitária do governo (que exige demissão de funcionário do Santander por enviar a seus correntistas uma análise tecnicamente correta e impecável, mas que desagradou à Presidente que se acha a Rainha do Amazonas; ou querer expulsar do país um repórter do New York Times que escreveu uma matéria tecnicamente correta, ainda que fraca, sobre os hábitos de um ex-presidente bebum), é compreensível que surjam dúvidas sobre os motivos que levaram o IBGE a voltar atrás em apenas um dia.

Eis aqui um artigo curtinho do Reinaldo Azevedo sobre o caso:

O IBGE mobiliza uma tropa de técnicos para processar as informações colhidas pela Pnad. Se a rotina não mudou, há todo um processo de conferência de dados. Mais: há procedimentos justamente para capturar eventuais erros antes da divulgação. Fazer de conta que estamos diante de uma narrativa corriqueira corresponde a tapar o sol com a peneira. Não estamos.

Então, depois de uma demora que também não teve a devida explicação, os dados são divulgados, constata-se a estagnação da redução da desigualdade, o tema ganha óbvia tradução política — e nem poderia ser diferente —, e, com rapidez espantosa, corrige-se o “erro” e se obtém o resultado desejado? “Ah, a desigualdade continua em queda”. Que bom, né? A oposição já não poderá mais usar esse argumento.

Estou acusando o IBGE de ceder à pressão oficial? Não exatamente. Se achasse, diria. Mas que devemos estranhar o procedimento, ah, isso devemos, sim.

Reitero: o que me espanta é o fato de checagens periódicas, que fazem parte do método de processamento de dados, não terem identificado, durante meses, um erro tão sério, depois identificado num único dia.

O que se passa no IBGE? Não sei. Nenhuma possibilidade é boa.

Depois disso tudo, o governo incompetente e totalitário do PT anunciou que irá criar comissões para avaliar os erros. Essa gente pitoresca adora “comissões” e “grupos”, né?! Elas jamais conseguem produzir nada, mas são criadas às pencas.

Que o IBGE errou não há dúvida.

A questão é compreender qual a extensão e a gravidade dos erros. Conforme apontou Cristiano Romero, excelente jornalista do Valor Econômico:

Pessoalmente, eu tenho um trabalhão tentando mostrar aos meus alunos o tanto de estatísticas oficiais que se pode obter GRATUITAMENTE junto aos órgãos especializados, e o quanto estas informações são úteis para se fazer um plano de negócios, o plano de marketing, análise da concorrência etc. Eu costumo, sempre que o tempo permite, mostrar a eles sites do próprio IBGE, da Fundação Seade, da FGV-Dados, do IPEA (esse eu abandonei, porque o Pochmann destruiu o coitado) etc, e como eles podem usar os dados de forma prática.

Não é trabalho fácil.

O site do IBGE, por exemplo, tem a SIDRA, um banco de dados gigantesco mas bastante difícil de ser usado por quem não tem alguma experiência com bancos de dados e estatísticas nacionais. Mas eu tento mostrar-lhes alguns “truques”.

E fatos como esse que aconteceu hoje acabam minando a credibilidade de órgãos sérios, aonde trabalham pessoas extremamente sérias e competentes. Estas pessoas, entretanto, acabam prejudicadas por chefias preenchidas com indicações políticas ou então pressões vindas de governos pouco afeitos à democracia.

Lastimável.

Não faltam distorções e mentiras sobre o crescimento do PIB brasileiro

Primeiro, notícia que li há pouco na Folha (AQUI):

Em entrevista a nove correspondentes estrangeiros, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu nesta quinta-feira (3) que o crescimento da economia no governo Dilma Rousseff não é o ideal, mas não vê necessidade de mudança nos rumos da política econômica.

Lula minimizou o desempenho da economia brasileira alegando que o cenário internacional ainda enfrenta os efeitos da crise de 2009. Ele justificou que o Brasil passa pela mesma desaceleração que atinge a Europa e os Estados Unidos, mas tem a seu favor a criação empregos em ritmo acelerado.

“Obviamente o nosso PIB não é o PIB que a gente gostaria”, disse Lula segundo a agência internacional Reuters. “Quando as pessoas acham que o Brasil não cresceu muito nestes últimos quatro anos, a pergunta que faço é: ‘quem cresceu mais do que o Brasil’?”, indagou.

Eis aqui a resposta, Lulla:

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E ali constam apenas países da América Latina, hein?!

Conforme eu já havia escrito AQUI, houve (e ainda tem havido) muita desinformação quando da divulgação do PIB de 2013. E vai continuar havendo.

Eis aqui mais um exemplo: “professor” (ai, que vergonha!) de uma universidade federal que não sabe ler e sai por aí (neste caso, no Facebook) afirmando que o PIB do Brasil cresce mais do que todo mundo, exceto China e Coréia.

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Trata-se de mais um PROFESSOR ANALFABETO: o sujeito coloca este link para “provar” o que ele afirma, mas o texto desse link repete a reportagem do Estadão que eu comentei AQUI.

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A despeito do texto mal redigido, a informação está lá:

O ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coloca o Brasil na terceira posição entre os 13 países que já divulgaram os resultados de suas economias no ano passado. O Brasil ficou abaixo apenas de China e Coreia do Sul em 2013, considerado esse universo.
A alta de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), superou os resultados dos Estados Unidos, Reino Unido, e África do Sul, que cresceram 1,9%, além de Japão (1,6%), México (1,1%), Alemanha (0,4%), França (0,3% e Bélgica (0,2%), de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (27), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

O “professor” sabe ler?! Está escrito lá que a comparação do índice de crescimento do PIB brasileiro foi feita APENAS ENTRE OS 13 PAÍSES QUE JÁ HAVIAM DIVULGADO SEUS RESULTADOS NAQUELE MOMENTO.

Aí , “professor” escreve que o Brasil cresce mais “que todo mundo”.

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Simplesmente não é verdade.

Tomei conhecimento das bobagens do ilustre “professor” AQUI. E ele não escreve bobagens apenas sobre economia no geral, mas sobre empresas em particular. É triste ver um “professor” universitário com um nível tão baixo, mas infelizmente é a realidade do Brasil.

De onde esse pessoal tira tantos “argumentos” tão ruins?!

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Notei ser impossível discutir com o sujeito, porque é do tipo que não apenas é ignorante, mas se acha super inteligente; aquele tipo que finge não ver os dados e fatos apenas para repetir ad nauseam o que ele acha que é verdade.

Exatamente como o Lulla!

A arte de comentar sem ler

Cada vez mais, torna-se padrão o comportamento na internet (em especial nas redes sociais): vejo um título curto, vou comentar.

Ler o texto na íntegra é desnecessário. O importante é comentar.

No fim de semana, meu post sobre o fechamento de lojas do Magazine Luiza foi compartilhado e comentado com uma frequência que me surpreendeu. Mas o mais triste é que não sei quantas pessoas EFETIVAMENTE LERAM o que está escrito lá antes de compartilhar e (claro!) comentar.

A seguir, uma pequena amostra do que eu vi (nem vou colocar mais, pois seriam repetições sobre o mesmo tema):

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Infelizmente, isso é cada vez mais o padrão. Não li, não sei o conteúdo, mas não me abstenho de comentar – nem que seja para falar besteira. E alguns sequer tentam disfarçar: assumem explicitamente que não leram, mas fizeram questão de comentar mesmo assim. Resta evidente que falar-se-á um amontoado de bobagens, como prova o Marco Gomes, quando diz que não faz sentido comparar o 2 trimestres seguidos de um indicador econômico.

É triste ver isso.

Brasil: o país do direito sem obrigação

Li na InfoMoney (íntegra AQUI), e concordo em gênero, número e grau:

Apesar de todo o sucesso pessoal, o bilionário da 3G Capital, Carlos Alberto Sicupira, manifestou preocupação sobre a atual situação do País após alguns anos de euforia econômica, durante conferência na Expert 2014, realizada pela XP Investimentos no último final de semana.

Sicupira, que é sócio de Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann, não se limitou a falar sobre as dicas de seu negócio e deu sua opinião sobre o cenário econômico nacional e as eleições de 2014. Ele afirmou que, até três anos atrás, havia uma espécie de anestesia sobre os últimos cinco anos do País. “Nunca tinha visto o Brasil tão bem na minha vida”, afirmou.

Atualmente, o Brasil voltou ao que sempre foi: “o Brasil é assim. O cara chega e muda a regra. Se vocês acham que o Brasil vai virar os Estados Unidos, estão enganados”, afirmou. Culturalmente, afirma, o País é do “coitadinho”, da impunidade e do direito sem obrigação. E, para ele, essa cultura brasileira não mudará independentemente de quem for eleito presidente.

Sicupira ainda falou sobre a impunidade no Brasil, afirmando que ela está “em todos nós” e que nós somos os culpados pela não transformação do País. “Porque não decidimos na hora da eleição? Nós também somos os culpados”, afirmou. Para ele, o negócio está na nossa mão: “nós temos o direito de votar, mas não sabemos em quem votamos”, afirmou, ressaltando que este processo tem raízes históricas. “Enquanto isso não mudar, não viraremos os EUA, ficaremos melhorando na margem”.

Ele está coberto de razão.

No Brasil, ser bem sucedido significa ser atacado – geralmente pelos “progressistas”, termo inventado para tentar suavizar adjetivos mais realistas, como “socialista” e “comunista”. Quem é bem sucedido vira alvo dessa corja, que diz defender os “pobres” mas na verdade odeia pobre. E odeia rico. E odeia classe média (a verdadeira, não aquela que o PT resolveu chamar de classe média só para deturpar as estatísticas do IBGE).

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Preciso citar o caso clássico da Marilena Chauí? Uma bufona, que recebe salário da USP para fazer proselitismo, e ODEIA a classe média – que ela considera fascista (ou “faxista”, segundo sua pronúncia tosca):

O Brasil está recheado de gente pródiga em reclamar por “direitos”, mas poucos estão consicentes de que antes disso é preciso cumprir com suas “obrigações”. Isso gera o cidadão-coitado: não hesita em reclamar seus direitos, mas na hora de cumprir os deveres e obrigações, empurra com a barriga.  A esquerda, via de regra, adora tratar o cidadão como coitado – e, por isso, a concepção da esquerda é transformar o Estado no senhor da razão. O Estado deve dizer ao cidadão o que fazer, como fazer, quando fazer, aonde fazer. Muitos brasileiros adoram esse Estado interventor, grande, “poderoso”, paternalista. A esquerda quer leis que dêem ao Estado o poder de decidir o que você assiste na TV, como cria seus filhos etc.

Chimpanzé acadêmico

A História já nos deu inúmeros casos de Estados que foram inchando, inchando, até dominar completamente a vida do cidadão. Os exemplos não são bons: Hitler, Stálin, Pol-Pot, Castro, Guevara, Mao Tse Tung, e por aí vão. O resumo geral é que a esquerda (pode chamar de progressista, socialista, comunista ou qualquer outro sinônimo) adora assassinos. Veja-se o caso do Cesare Battisti, por exemplo.

Há pouco tempo, o DataFolha fez uma pesquisa que pretendia mapear o posicionamento do cidadão brasileiro em termos de espectro político. A pesquisa tinha diversos erros metodológicos, mas apontou que o percentual de brasileiros que se dizem “de esquerda” é menor (bem menor) do que os que se colocam como sendo “de direita”. Alguns detalhes estão AQUI.

Uma semana depois, entretanto, o DataFolha divulgou mais um “pedaço” da pesquisa, e desta vez o resultado foi diferente. Esta segunda parte da pesquisa revelava um número expressivo (em muitos casos, majoritário) de pessoas que queriam maior presença do Estado nas questões econômicas.

Somadas as duas partes da pesquisa do DataFolha (e, repito, mesmo considerando que há erros suficientes para descartar a pesquisa), a conclusão mais evidente é que o brasileiro, na média, se diz de direita politicamente, mas não abre mão do paternalismo do Estado.

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Os equívocos da campanha #NãoMereçoSerEstuprada

Já começo reproduzindo matéria da Folha de hoje (íntegra aqui), com alguns grifos meus:

Desde que o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) assumiu, na última sexta-feira, um erro na pesquisa sobre violência contra mulher, houve um revés na campanha antiestupro difundida pelas redes sociais. Após o instituto corrigir de 65% para 26% a proporção de brasileiros que apoiam ataques a mulheres que mostram o corpo, a média diária de sites denunciados por incitação ao estupro diminuiu 98%, mostram dados da Safernet fornecidos à Folha.

A ONG monitora crimes e violações aos direitos humanos na internet em cooperação com o Ministério Público e a Polícia Federal. Nos nove dias entre a divulgação da pesquisa, em 27 de março, e a da errata, a organização recebeu 4.872 denúncias de sites pró-estupro, seis vezes mais do que o restante do mês de março. Nos últimos três dias, porém, quando o erro da pesquisa já era conhecido, a ONG recebeu só 31 queixas.

Thiago Tavares, presidente da Safernet, considera que apesar do equívoco “absurdo” do Ipea, a sociedade não deve menosprezar que um quarto dos brasileiros acha que mulheres merecem ser atacadas por seu modo de vestir. “Saímos do inacreditável [65%] para o inaceitável [26%]. A população precisa se conscientizar da necessidade de denunciar esses crimes e seus agressores” diz.

Para a especialista em pesquisas de opinião Fátima Pacheco Jordão, o erro numérico é secundário diante da repercussão da pesquisa. “A reação mostra que a sociedade e, em especial, as mulheres não acham que o problema é individual, mas sim estrutural, o que é passo muito importante para pararmos de culpabilizar as vítimas de estupro”, afirma.

Ativistas do #NãoMereçoSerEstuprada prometem continuar o movimento, que incentiva mulheres e homens a postarem fotos nas redes sociais com a mensagem da campanha. “Não tem errata que tire das mulheres o debate que se abriu. Ele continua, com as várias manifestações marcadas pelo país”, diz Nana Queiroz, criadora do movimento.

Eu não sei se estas pessoas ouvidas pela reportagem (Thiago Tavares, Fátima Pacheco Jordão, Nana Queiroz) são apenas burras, ou se estão falando essas bobagens por má-fé.

Quem menciona os números da pesquisa equivocada do IPEA e se refere aos tais 26% só pode ser muito (MUITO) burro, ou agir de má-fé. Não parece haver uma terceira via.

A pesquisa do IPEA estava TOTALMENTE ERRADA.

Totalmente.

Não sobra uma única vírgula daquela pesquisa que não merece a lata do lixo.

O ilustre Thiago Tavares, por exemplo: a reportagem escreveu que ele considera que apesar do equívoco “absurdo” do Ipea, a sociedade não deve menosprezar que um quarto dos brasileiros acha que mulheres merecem ser atacadas por seu modo de vestir. ‘Saímos do inacreditável [65%] para o inaceitável [26%]. A população precisa se conscientizar da necessidade de denunciar esses crimes e seus agressores’ diz”. Não, caro Thiago. Não é nada disso.

Deixa eu explicar de forma didática pra você.

O IPEA não perguntou se uma mulher DEVE/MERECE ser ESTUPRADA por causa das roupas que ela usa. A pergunta foi mal feita, e, portanto, é incapaz de auferir qual o percentual da amostra que concorda com essa afirmação. Esses 26% não significam NADA.

ENTENDEU OU DEVO DESENHAR?

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Como se não bastasse, o IPEA errou miseravelmente no cálculo da amostra.

NENHUM número produzido por esta pesquisa ridícula pode ser usado para generalizar qualquer conclusão sobre a população brasileira como um todo.

Como a dona Fátima Pacheco Jordão enfiou um “culpabilizar” na sua declaração, nem vou perder tempo comentando. Uma palavrinha dessas já demostra o nível intelectual (zero) da pessoa. Pior: foi caracterizada como “especialista em pesquisa de opinião” – mas está lá, “comentando” uma pesquisa furada.

Por seu turno, a terceira citação, da dona Nana Queiroz, é apenas inócua, vazia. Ela tem todo o direito de fazer a campanha que ela quiser enquanto (ainda) vivemos numa democracia (a despeito do PT). Isso não significa, todavia, que este movimento tenha QI acima de 2.

Estupro é crime, e deve ser punido sempre, no máximo rigor da lei.

Mas a campanha da dona Nana é burra. Não apenas por apoiar-se em premissas totalmente erradas (a equivocada e furadíssima pesquisa do IPEA), mas por não promover nada de novo. Dizer que a mulher não tem culpa pelo estupro é enaltecer o óbvio. É como dizer que o Sol é quente, que a chuva é molhada, que o PT é corruPTo ou que a Dilma é incomPTente.

E daí?

Finalmente, o mais importante. A tema central da reportagem é a queda das denúncias feitas à ONG.

Dizer que as denúncias deixaram de ser feitas POR CAUSA da correção da pesquisa do IPEA? A questão é que a pesquisa perdeu completamente a credibilidade (exceto para os muito muito burros ou para os de má-fé), e, com isso, muita gente que estava impressionada com os números “alarmantes” recobrou o bom senso.

Assim que foi divulgada a pesquisa do IPEA, houve histeria em massa. Depois, quando ficou demonstrado que estava tudo errado, as pessoas voltaram ao normal.

Mais uma razão pela qual a tal campanha da dona Nana é burra – porque apoiada num factóide derivado da histeria coletiva.

IPEA, Petrobras e Embrapa aparelhadas pelo PT: eu avisei

Há muito tempo eu venho alertando sobre o aparelhamento do Estado promovido pelo PT.

Nas últimas semanas, esse assunto veio à tona de forma ainda mais clara, e o que vimos foi o IPEA divulgando uma pesquisa COMPLETAMENTE EQUIVOCADA, com erros crassos de metodologia e análise; fatos sobre a Petrobras que ajudam a entender a estagnação da empresa; e, para finalizar o estrago, novos fatos sobre a Embrapa.

O arquivo do blog não me deixa mentir: EU AVISEI.

Venho escrevendo sobre isso há tempos.

Especificamente sobre a Petrobras, eu escrevi AQUI, AQUI, AQUI (neste post, aliás, há diversos dados para quem deseja entender um pouco melhor o setor), e mais AQUI e AQUI, para citar apenas alguns posts (há muitos outros, basta fazer a busca na ferramenta do blog, na coluna lateral).

Eis aqui alguns trechos de artigo publicado na revista Forbes sobre a Petrobras (a íntegra está aqui):

Petrobras’ problems are becoming Dilma’s problems.

Brazil’s oil and gas major, Petrobras, can do no right. And now President Dilma Rousseff is being blamed for the problems. Of course, she is being blamed by politicians who don’t want to see her re-elected in October. They probably won’t succeed at dethroning her, but one thing is certain: the deterioration of the shining star of Brazil’s state owned enterprises happened on her watch. This election season, Dilma isn’t the only one in the cross hairs. Petrobras is now her problem, too.

Not long ago, as in 2007, Petrobras was heralded as the Latin America Aramco, finding oil deep under the ocean floor far off the coast of Rio and São Paulo states. Goldman Sachs once put a $60 price target on the stock in early summer 2008. Today, Petrobras shares trade under $12, and its market cap is smaller than Colombia’s EcoPetrol EcoPetrol.

Over the last several weeks, Petrobras has been inundated with allegations of corruption. Chalk it up to the election cycle, but bad news has sprung a leak in the state energy giant. It’s going to get worse before it gets better.

The Federal Police have around five investigations out on Petrobras, not to mention one at the Congressional Budget Office in Brasilia. The crises goes beyond politics, though, and hits where investors feel it most. The company has lost 51% of its market cap in the last three years and is now valued at $75.5 billion.

Last year, Petrobras’ debt load hit $22 billion, a 30% increase from 2012 levels. Petrobras’ high debt caused the company’s fiscal counsel to warn executives of a possible credit rating downgrade. Petrobras is investment grade. Ratings downgrades mean higher risk premiums, which makes it more expensive for a company to borrow.

It’s one thing if the debt was soundly acquired. Most of it was, of course. But some of the debt was seen as possibly being siphoned off by unscrupulous technocrats at Petrobras through acquisition deals gone wrong.

One of the biggest problems at Petrobras today is the nearly $1 billion it paid for the Pasadena refinery in Houston in 2006, a deal that the government admits was improperly handled by the company. Two years prior, the same refinery was sold to Belgium firm Astra Oil for less than $50 million, Estado de São Paulo newspaper reported on Sunday. Even Dilma said this week that Petrobras failed on its due diligence to acquire the refinery, which they are currently trying to sell, undoubtedly at a loss. Unfortunately for her, she was a member of Petrobras’ Board of Directors at the time of the purchase.

On Friday, one of Petrobras’ former executive directors, Paulo Roberto da Costa, was arrested by Federal Police on allegations of money laundering while at the company. Costa was in charge of the Pasadena deal. Government entities overpaying for goods and services is a classic way politicians and well-connected executives can steal from the state.

Dilma was the hand-picked successor of Brazil’s most popular president since the dictatorship years, Luiz Inacio Lula da Silva. He put her in charge of the Ministry of Mines and Energy, before moving her to his Chief of Staff and setting her up to take over where he left off in 2009. The ex-leftist guerrilla leader was more activist than oil woman, but Petrobras was never viewed as a traditional corporation, not in Brasilia and not by the market. Petrobras is more of a policy tool of the government. And now, it appears that it has been used as a cash account for some people inside the firm if investigations turn out negative for Petrobras.

[…] Petrobras is one of the worst performing large caps on the Brazilian stock exchange, down 15.89% year-to-date. The MSCI MSCI Brazil is down 6.75%. Ecopetrol is down just 2.96%.

Mas não é necessário recorrer àquilo que a imprensa internacional vem escrevendo: tanto a Veja quanto a Época desta semana têm um assunto de capa em comum – a Petrobras.

Não li a matéria da Época, mas a da Veja é um verdadeiro escândalo. E uma coisa me chamou a atenção: a reportagem da Veja traz um quadro comparativo de alguns indicadores da Petrobras e da EcoPetrol colombiana, também mencionada pela matéria da Forbes. A comparação entre as duas é outro escândalo:

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Peço ao leitor que repare nos dados do quadro comparativo acima. Vou destacar alguns números ESCANDALOSOS:

1) Veja bem, caro leitor, a diferença na produção diária de cada uma das empresas: enquanto a EcoPetrol produz “apenas” 612 mil barris, a Petrobras produz 1,93 milhão. Mas o valor de mercado das 2 empresas é MUITO próximo. Porém, o maior escândalo está na antepenúltima linha: RENTABILIDADE. A rentabilidade da Petrobras é RIDICULAMENTE BAIXA (6,7%) diante da rentabilidade da EcoPetrol (19%).

2) EFICIÊNCIA: a diferença neste índice é um verdadeiro escândalo. A EcoPetrol produz, por funcionário, mais do que o dobro da Petrobras (2,3 vezes para ser exato).

É preciso lembrar que este setor é intensivo em capital, e ganhos de escala são essenciais. Ainda assim, a Petrobras é muito maior do que a EcoPetrol, operacionalmente falando, mas produz menos (índice de eficiência, ou seja, barris produzidos por dia, por funcionário) e tem uma rentabilidade 2,8 vezes MENOR do que a petroleira colombiana.

3) Na última linha do quadro, vemos um problema criado pela burrice (aliada ao populismo demagógico) do Lulla: a exigência de materiais nacionais. Ao adotar esta burrice como política interna da Petrobras, o demagogo apedeuta criou um problema para a empresa, um fator que reduz sobremaneira a competitividade de uma empresa que poderia (e deveria) tornar-se a cada dia mais competitiva para concorrer no mercado mundial.

Sobre a Embrapa, surgiram novas discussões depois de reportagem do jornal O Globo que está AQUI. Segue apenas um trecho:

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sempre foi considerada uma ilha de excelência técnica, tanto na condução de pesquisas decisivas para o setor quanto na escolha dos profissionais de carreira que ocupam os cargos de chefia da estatal. O atual momento do órgão vem redesenhando essa impressão. A empresa vive uma fase de aparelhamento e apadrinhamento partidário num de seus setores mais estratégicos, afrouxamento das regras para a escolha dos diretores executivos — com a predominância do critério de indicação política — desmantelamento da capacitação internacional, e forte disputa interna. Além disso, uma investigação em curso apura supostas irregularidades cometidas por sete servidores na criação da Embrapa Internacional, com sede nos EUA.

Documentos obtidos pelo GLOBO mostram que já está definida a extinção da Embrapa Estudos e Capacitação, também chamada de Centro de Estudos Estratégicos e Capacitação em Agricultura Tropical (Cecat), um projeto pessoal do então presidente Lula, inaugurado em maio de 2010. Lula pediu a criação da unidade para capacitar profissionais de outros países que atuam no campo da agropecuária, principalmente nações da África e da América Latina. Um bloco de quatro andares foi construído ao lado da sede da Embrapa em Brasília — os dois prédios estão conectados por um corredor — e os gastos somaram R$ 9,4 milhões.

A inauguração contou com a presença de Lula. Menos de quatro anos depois, a unidade sumirá do organograma da Embrapa. Uma nova secretaria será criada para abrigar a área de estudos estratégicos. A capacitação será assimilada pela área de transferência de tecnologia, cujo diretor-executivo foi indicado ao cargo por deputados federais do PT. Também o Departamento de Transferência de Tecnologia, subordinado à Presidência e a essa diretoria-executiva, é chefiado por um militante do PT, avalizado por uma das correntes — o Movimento PT.
O Cecat é uma unidade descentralizada, com maior autonomia de gestão. Com a transferência da capacitação para um departamento, os gestores com indicação política terão mais controle das atividades desenvolvidas.

E, finalmente, sobre o IPEA… Bom, o que sobrou?

O IPEA fez uma pesquisa com erros crassos, números invertidos, amostragem equivocada, perguntas toscas e dúbias, péssima seleção de palavras, gerou burburinho quando divulgou os resultados e depois teve que soltar uma correção.

A pesquisa do IPEA ganhou destaque na imprensa, e acabou gerando uma campanha pelas redes sociais (twitter, facebook, instagram). O caso serviu para provar que:

1) A grande imprensa acredita em qualquer pesquisa, por mais evidentes que sejam os erros e deturpações, o que expôs os “jornalistas” como verdadeiros analfabetos; e

2) Qualquer informação divulgada pela imprensa é imediatamente assimilada como verdade por uma imensa quantidade de ignorantes, que não perdem tempo em se lançar numa campanha burra, ignorante, tosca e ridícula.

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Pior: a correção (“errata”) ignorou todos os erros graves na metodologia e na amostragem.
A verdade é que aquela pesquisa sobre estupro do IPEA deve ser jogada, integralmente, no lixo. Ela está errada em tudo.

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Faturamento do varejo em SP cresceu 4% em 2013. A inflação superou 6%.

Leio na Época Negócios (íntegra AQUI) o seguinte:

O faturamento do comércio varejista no estado de São Paulo cresceu 4,2% no ano passado em relação a 2012, aponta pesquisa divulgada hoje (7/3) pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Em 2013, a receita com vendas do setor atingiu R$ 513,2 bilhões, o que representa um incremento de R$ 20,7 bilhões. Somente em dezembro, o varejo paulista faturou R$ 52,1 bilhões, um aumento de 3,8% na comparação com igual período do ano anterior. O destaque em 2013 foi a expansão no varejo supermercadista, com aumento real de R$ 5,8 bilhões.

De acordo com a FecomercioSP, o resultado foi superior à estimativa de elevação de 4% no faturamento feita pela entidade. Na avaliação dos economistas da federação, o desempenho do comércio paulista é resultado da adoção de estímulos ao consumo pelo governo federal; redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos e eletrodomésticos; linhas de financiamento mais acessíveis no Programa Minha Casa Melhor; e redução de juros às pessoas físicas pelos bancos públicos.

Muita gente vai comemorar esse crescimento.

Muita gente desinformada ou mal intencionada.

Vamos lembrar:

A inflação fechou o ano de 2013 em 5,91%, acima do centro da meta (4,5%) pelo quarto ano seguido. Superou a de 2012, quando o IPCA havia ficado em 5,84%. O Banco Central queria um número mais baixo, tinha como meta informal o resultado de 2012, mas o dado acabou surpreendendo, vindo acima do que os economistas esperavam. A inflação de dezembro, de 0,92%, também veio mais forte, superior ao IPCA de novembro (0,54%).
Os alimentos foram os que mais pressionaram a inflação no ano passado, subindo 8,48%, mais do que a taxa média. Durante o ano, chegaram a registrar alta de 14% em 12 meses, como já falamos aqui no blog.
– Os preços dos alimentos vêm aumentando de forma expressiva nos últimos anos e, embora o resultado de 8,48% de 2013 tenha mostrado certo recuo em relação aos 9,86% de 2012, foi Alimentação e Bebidas que apresentou a maior alta de grupo e exerceu o mais forte impacto no IPCA do ano. Detendo 2,03 ponto percentual, os alimentos foram responsáveis por 34% do índice – explicou o IBGE, em nota divulgada hoje.
São quatro anos seguidos com inflação acima do centro da meta: em 2009, ficou em 4,31%; em 2010, em 5,91%; em 2011, em 6,50%; em 2012, em 5,84%; e em 2013, em 5,91%. (Íntegra AQUI)

A inflação dos alimentos em 2013 superou 10%. Os dados da FecomercioSP indicam que o varejo cresceu, na média, MENOS DO QUE A INFLAÇÃO. Quando um setor cresce MENOS DO QUE A INFLAÇÃO de um determinado ano, não houve crescimento, mas encolhimento/queda.

supermercado

E, como o texto apontou, 2013 foi um ano em que o governo deu pulinhos para tentar injetar dinheiro em diversos setores, com os programas assistencialistas do PT.

Não adiantou.

Vamos comemorar os números do PIB de 2013?

Eu já havia escrito AQUI sobre a situação econômica do país (spoiler: NÃO é boa, muito pelo contrário).

Nesta quinta-feira o IBGE divulgou alguns números referentes ao PIB de 2013. Todos os jornais, revistas e portais divulgaram. O Estadão, coitado, pagou um mico horroroso: escreveu “Brasil tem o 3.o maior crescimento econômico do mundo“. Uma reportagem que deve ter sido redigida por um estagiário (AQUI, na íntegra) no blog, que ganhou destaque no Facebook do jornal:

Safari

Qual é o problema com a matéria do Estadão – e, em especial, com o título?

Simples: o jornal considerou APENAS UM UNIVERSO DE 13 PAÍSES, SELECIONADOS PELO IBGE. (Aliás, por que 13? Por que não 10? Ou 20? Ou 50?)

Portanto, o Brasil teve o 3.o maior crescimento SE VOCÊ OLHAR APENAS E TÃO SOMENTE PARA 13 PAÍSES selecionados pelo IBGE. Destes 13 países, apenas 2 (Brasil e China) são membros do grupo BRIC, e apenas 4 (os 2 citados anteriormente, e mais o México e a África do Sul) são países sub-desenvolvidos – hoje chamados pela turminha do politicamente correto de “em desenvolvimento”. Os demais são países desenvolvidos, como EUA, Reino Unido, Alemanha e França.

Ora, um aluno do primeiro ano de um curso meia-boca de Economia aprende que países desenvolvidos têm crescimento menor do PIB do que países sub-desenvolvidos como regra, não como exceção.

E o pior: a manchete afirma que foi o 3.o maior do mundo – portanto, o sujeito que, preguiçosamente, lê apenas a manchete (coisa mais do que corriqueira com uma população repleta de analfabetos funcionais e ainda mais na era de textos curtos no facebook, twitter e outras redes sociais) vai sair achando que o crescimento foi ótimo (“puxa, terceiro maior DO MUNDO? Nossa economia está ótima, então!”).

Não foi.

Adolfo Sachsida escreveu sobre o assunto (na íntegra AQUI, abaixo apenas alguns trechos com grifos meus):

Alguns números me chamaram a atenção. O mais óbvio deles: a agricultura que cresceu 7%. Não fosse o agronegócio e o Brasil estaria amargando um resultado bem pior. Então vem minha primeira dúvida: por que o agronegócio é tão demonizado pelos movimentos sociais ligados ao PT?

Minha segunda dúvida refere-se ao crescimento da indústria de apenas 1,3%. Passou-se mais um ano, o BNDES torrou bilhões de reais e novamente o setor que mais recebeu subsídios foi o que menos cresceu. Até quando o governo vai acreditar que o problema da indústria é falta de crédito e problema cambial? O real desvalorizou e o governo deu subsídios creditícios para as indústrias e, mais uma vez, o resultado foi pífio. O problema da indústria não está na falta de crédito ou no câmbio. O problema da indústria está na baixíssima produtividade brasileira. Precisamos urgentemente avançar nas reformas tributárias e trabalhistas, de quebra faz-se necessário uma vigorosa diminuição na estupidamente pesada burocracia brasileira. São estas três palavras: impostos, legislação, e burocracia, os verdadeiros vilões da competitividade da indústria brasileira.

Minha terceira dúvida é sobre o crescimento da formação bruta de capital fixo. O IBGE indica que a formação bruta de capital fixo cresceu 6,3%. Estou muito curioso para saber o que anda entrando nessa conta. Gastos do governo entram como nessa conta? Quando o ministério da fazenda compra ar condicionado para seus escritórios isso está entrando como formação bruta de capital fixo? Os estádios para a Copa do Mundo com certeza entram nessa conta, e é evidente que os mesmos são elefantes brancos. Difícil acreditar que os R$ 1,5 bilhões de reais gastos no estádio de Brasília sejam um investimento que vá gerar algo além de mais despesas no futuro.

Enfim, mais um ano de baixo crescimento econômico e de inflação em alta. Não custa lembrar que meus estudos sobre a curva de Phillips já sugeriam isso. Já mostravam que permitir um aumento da inflação faria muito pouco pelo crescimento econômico.

Portanto, para responder a minha pergunta do título: Vamos comemorar os números do PIB de 2013?

NÃO.

  • LEIA MAIS: Boas análises e dados complementares para entender melhor esses números do PIB podem ser apreciados AQUI, AQUI, AQUI, AQUI, AQUI, AQUI e AQUI.  
  • PS: Em 2013, o governo (especialmente o Ministro Margarina, sempre comprometido em errar todas) divulgava, ad nauseam, projeções de crescimento do PIB de 4,5%. Esse cara não desaponta NUNCA!

ATUALIZAÇÃO:

Eu havia me esquecido completamente de citar um outro fator que precisa ser considerado na questão da cagada do Estadão que citei no início: os militantes virtuais (que o PT chama de “MAV“) desprovidos de capacidade analítica e/ou boa-fé que infestam as redes sociais. Eis aqui o exemplo perfeito:

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O sujeito tem um único propósito no twitter: retuitar e espalhar dados e informações falsas, tentando fazer parecer que o governo do PT é um sucesso, quando se trata de um retumbante fracasso sob toda e qualquer ótica. Este mesmo sujeito, Naldo, tentou há algum tempo me fazer acreditar que o Pronatec da Dilma era um sucesso.

Para o azar dele, eu sei ler, e não me deixo enganar por números fantasiosos.

O ufanismo da Luiza Trajano que “viralizou”

Luiza Trajano, presidente do Magazine Luiza, esteve no programa Manhattan Connection recentemente, e hoje me dei conta de que a sua entrevista acabou se tornando assunto que “viralizou” – lamento, mas este é o termo que virou moda, a despeito de ser bastante boçal.

Supostamente, ela teria “humilhado” o Diogo Mainardi quando tratou da situação do varejo (e, de forma mais abrangente, da economia) do Brasil. Primeiro, vamos ao vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=WCTkwB2BcwY

Só agora há pouco tive chance de assistir ao vídeo na íntegra. E percebo que não houve nenhuma “humilhação” ou nada do gênero – aliás, pelo contrário: o Diogo Mainardi só errou em UM único dado, referente à inadimplência no Brasil em 2013. De resto, ele estava certo.

ATUALIZAÇÃO/CORREÇÃO – Depois que já havia publicado o post, o Diogo Mainardi colocou no Twitter o link da fonte que ele usou para afirmar, no programa, que a inadimplência de 2013 havia crescido. Ele está certo. Segundo dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o índice de inadimplência realmente cresceu em 2013. Eis aqui o link da reportagem. Assim sendo, preciso ME corrigir: o Mainardi não errou em nada. No quesito da inadimplência, ele citou uma base de dados (CNDL, que usa dados do SPC), e a Luiza Trajano usou outra (Serasa). Cabe ressaltar, ainda, que quando o programa foi gravado, a Serasa ainda não havia tornado públicos os dados de 2013. Então, não era possível o Mainardi saber desse resultado quando da gravação do programa.

“Há três espécies de mentiras: as mentiras, as mentiras sagradas e as estatísticas.”
Mark Twain

Vamos por partes.

1) Eu sou acionista do Magazine Luiza, e não vejo, nem nos dividendos e nem nos balanços, esse otimismo todo da Luiza Trajano. O varejo cresceu menos do que a inflação OFICIAL (e a inflação oficial é uma piada hoje no Brasil – eu sinto, nas minhas compras no supermercado, uma inflação de mais de 13% fácil, fácil. Além disso, estamos na época da “contabilidade criativa” de um governo que não hesita em mentir). Quando você cresce menos do que a inflação, significa que, na prática, você NÃO cresceu. Comprei ações do Magazine Luiza faz tempo, e o retorno sobre o meu investimento, até aqui, está negativo.

Houve, sim, uma “explosão” do varejo há alguns anos. Mas já acabou. Os dividendos que eu recebo provam isso. Os balanços do Magazine Luiza e das demais varejistas mostram isso. O problema é que são dados pouco compreensíveis para quem é afeito a “vídeos viralizados”.

Eis aqui uma pequena amostra do que ocorreu com as ações do Magazine Luiza entre 2011 e ontem (21/01/2014):

Google Chrome

Como presidente do Magaine Luiza, será que a Luiza Trajano vai dizer que as ações da empresa caíram tanto devido a uma gestão ruim ou porque o ambiente de negócios (Brasil) deteriorou-se significativamente? Será que o ufanismo se aplica às ações da empresa que ela preside?

2) O Magazine Luiza virou case em Harvard há mais de uma década; de lá pra cá, eles estancaram: zero de inovação. Não souberam dar sequência no boom do crescimento inicial. Além disso, o atendimento ao cliente NÃO é dos melhores. E quem fala isso é um cliente que desistiu de comprar no site do Magazine Luiza – eu prefiro comprar na Fast Shop.

Mas você é acionista do Magazine Luiza e compra na concorrência?

Sim.

O Magazine Luiza (ao menos o site, por onde eu compro 99% das vezes) tem pouca variedade e os preços não são tão mais baixos do que a concorrência – que tem maior diversificação e sistema de entrega (logística) superior. E, quando precisei do atendimento para resolver um problema, foi um desastre. Sou um consumidor exigente, então fui para a concorrência. Simples.

3) Há mais de uma década o varejo é o maior empregador no Brasil (exceto governos). Isso é realidade há muito tempo, aliás. Mas a Luiza fala disso como se fosse algo novo, recente, uma novidade que ninguém sabia. Eu poderia puxar dados e contextualizações que trariam à tona a automação industrial e a adoção de máquinas e equipamentos mais eficientes na agropecuária, o que reduziu a mão de obra no campo e na indústria, deixando o setor de comércio e de serviços com a maior parcela do “Pessoal Ocupado (PO)” nos levantamentos do IBGE, mas não vou me dar ao trabalho.

A tabela abaixo dá uma idéia disso (e pode ser consultada diretamente no site do IBGE, aqui):
Google Chrome 2

4) Sobre a inadimplência: a Serasa divulgou ontem (21/01) os dados consolidados de 2013. Sim, houve uma pequena redução da inadimplência em 2013, mas tanto em 2011 quanto em 2012 o aumento havia sido recorde. Os detalhes estão aqui. O Mainardi errou com relação a 2013, mas a Luiza errou quanto a todos os outros: desde que a Serasa começou a fazer este levantamento/índice, em 2000, foi a PRIMEIRA VEZ QUE HOUVE QUEDA – e, ainda assim, de apenas 2%. [VER ATUALIZAÇÃO/CORREÇÃO FEITA ANTERIORMENTE: O Mainardi não errou, ele citou outro dado/fonte]

Finalmente, quero lembrar de uma coisinha. Alguns anos atrás, o Eike Batista foi ao mesmo programa; o Mainardi questionou o otimismo exacerbado dele com o Brasil e questionou a solidez das empresas do grupo. Na época também disseram que o Mainardi estava errado, e que a resposta do Eike Batista havia “humilhado” o pessimista Mainardi. Eis aqui o vídeo:

Hoje, 2014, o que aconteceu com o Eike Batista? No ano passado, a verdade apareceu: as empresas do “grupo EBX” viraram pó. Não valem nada. O BNDES, que emprestou mais de R$ 10 bilhões, tomou calote.

A Luiza é muito simpática etc etc etc. Eu gosto dela. Mas ela, hoje, depende do governo em diversos aspectos: não apenas dinheiro do BNDES, mas o Magazine Luiza foi o primeiro varejista a aderir ao “Minha Casa Melhor”, que conta com linha de crédito da Caixa para vender eletrodomésticos, e faz tempo que ela é cotada para integrar o governo. Alguém acha que ela vai abrir mão disso tudo para “falar a verdade” num programa de TV que não é visto nem por 1% da população do Brasil, numa entrevista que dura menos de 15 minutos?

“Estatística é a arte de espancar os números até que eles confessem.”
Millôr Fernandes

“Contra fatos não há argumentos”, alguns dizemDepende.

Hoje em dia está cada vez mais “normal” os fatos serem distorcidos e espancados até que eles “confessem” aquilo que se pretende. Um exemplo recente: o IBGE mudou os métodos de cálculo do índice de desemprego. Num único dia, o Brasil passou de uma taxa de 5% para mais de 7,4%. Detalhe: em 2003 o IBGE já havia alterado seus métodos, o que reduziu o índice de desemprego da noite para o dia.

Porém, se o IBGE passasse a adotar os mesmos critérios usados na Europa para medir o desemprego, o Brasil hoje estaria com índices na casa dos 20%. Evidentemente isso não impede que muita gente fique exaltando o suposto “pleno emprego” no Brasil.

Leituras adicionais recomendadas:

O questionável otimismo de Luiza Trajano com o governo Dilma

Todo mundo sabe que a economia brasileira está com problemas… menos a Luiza