No sábado aproveitei para ficar “off-line” e colocar em dia a leitura de alguns livros muito interessantes que estavam na fila no meu kindle. Com isso, só ontem li sobre a morte de John Nash.
Trata-se de mais um daqueles acontecimentos estranhos, que não têm rigorosamente nenhuma relação com o nosso dia-a-dia, com nossa vida cotdiana – mas que, ainda assim, me deixou profundamente triste. Admiro muito a trajetória do brilhante matemático que mudou alguns conceitos fundamentais da Teoria dos Jogos, em meio às dificuldades causadas pela sua esquizofrenia, mas especialmente admiro a humildade intelectual de um verdadeiro gênio.
O mês de maio, a despeito de ser o mês do meu aniversário, está se tornando um mês maldito.
Em 2010, morreu o brilhante Ronnie James Dio (16/05/2010).
No último dia 14/05, morreu B.B. King.
E agora morre John Nash?
Que zica!!
Foram feitos alguns bons obituários sobre Nash, entre eles o do Financial Times, o do New York Times, o da TIME etc. O Valor fez um bom resumo sobre alguns fatos marcantes da vida de Nash:
O matemático John Nash morreu no sábado (23) aos 86 anos em um acidente de táxi em Nova Jersey, nos EUA. Nash é vencedor do Prêmio Nobel de Economia e teve sua vida retratada nos cinemas por Russel Crowe no filme “Uma Mente Brilhante”.
Nash estava no carro com sua mulher, Alicia, 82, que também morreu. Segundo um policial local citado pelo site do canal ABC News, o motorista do táxi que levava o casal perdeu o controle do veículo em uma estrada e colidiu contra uma grade de proteção.
O policial disse ainda que a hipótese inicial é de que nenhum dos dois usava o cinto de segurança no momento do acidente, já que seus corpos foram lançados do carro.
O casal vivia em Princeton, em Nova Jersey, onde Nash era pesquisador na área de matemática da prestigiosa Universidade de Princeton.
Nash ganhou o Nobel de Economia em 1994. Nesta semana, Nash foi à Noruega para receber o Prêmio Abel de matemática por seu trabalho com equações diferenciais parciais.
Sua vida, incluindo a batalha contra a esquizofrenia e paranoia, foi retratada por Russell Crowe no drama de 2001 “Uma Mente Brilhante”, que ganhou quatro Oscars, incluindo o de melhor filme.
[…] Ter a vida transformada em uma cinebiografia trouxe à tona esqueletos do passado do matemático. Entre 2001, quando o filme estreou, e 2002, quando ganhou quatro dos oito Oscar a que concorreu (melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante), o matemático que sofria com esquizofrenia viu seu passado ser destrinchado pela imprensa.
Descobriu-se que ele teria tido experiências homossexuais, o que ele negou, que teve um filho fora do casamento com uma ex-enfermeira, o que é verdade, e que o filho que teve em seu casamento também sofre de esquizofrenia, o que também foi confirmado.
O site do jornalista Matt Drudge, famoso pela divulgação do escândalo Monica Lewinsky, revelou ainda que Nash escreveu comentários antissemitas numa carta de 1967 reproduzida na própria biografia: “A raiz de todo o mal, pelo menos em minha vida pessoal, são os judeus”.
Em outras ocasiões, teria se referido a uma tal “conspiração Krypto-Sionista”.
A polêmica levou Nash a aceitar convite do “60 Minutes”, uma das principais revistas televisivas dos EUA, para se defender, em março de 2002. Nela, ele conta que começou a ouvir vozes aos 30 anos e que eram “como anjos”.
Ele disse que teve ideias estranhas durante a época do auge da paranoia, um sintoma comum da doença, mas negou que fosse antissemita.
Ele revelou ainda que ficara próximo do filho que teve fora do casamento e que deu a ele parte dos royalties do filme. Falou também de seu outro filho, Johnny, que na época já exibia sintomas da esquizofrenia.
A acusação chegou a ameaçar o sucesso do filme em Hollywood, um dos setores da sociedade norte-americana em que a comunidade judaica é mais atuante. Na época, especulava-se que o filme perderia todos os Oscars.
A principal defesa dos envolvidos no filme foi de que as afirmações de Nash foram feitas no auge do período de 35 anos em que ele mais sofreu as consequências da esquizofrenia.
“Na mesma época em que escreveu isso, Nash pensava que era o messias, o imperador da Antártida e a reencarnação de Jó”, disse à época Sylvia Nasar, autora da biografia do matemático -“Uma Mente Brilhante” (editora Record, 2002).

Eu uso a mais famosa cena do filme “Uma mente brilhante” (vídeo abaixo) em algumas aulas, para mostrar aos meus alunos o conceito básico do equilíbrio de Nash, mas evidentemente alertei que a rigor a cena NÃO retrata um equilíbrio de Nash. Contudo, o filme (particularmente a cena do bar) ajuda a “apresentar” não apenas um conjunto de conceitos bastante complexos a quem jamais ouviu falar do tema – e possivelmente nunca mais terá a chance de estudar o assunto – mas tem o mérito de contar a vida de um gênio que, não fosse personagem do filme, poderia ficar relativamente desconhecido. O filme é bem feito, e o Russel Crowe está excelente no papel de John Nash (infelizmente o mesmo não pode ser dito da atriz que representou a mulher de Nash, uma mulher brilhante mas que no filme é apagada demais).
Recomendo, aliás, a entrevista concedida por Sylvia Nasar ao Washington Post. Ela é a autora do livro “Uma mente brilhante”, que deu origem ao filme que tornou John Nash conhecido fora do ambiente acadêmico. Sério, leia. Excelente entrevista mesmo.
Você precisa fazer login para comentar.