Às vezes o sentimento de vergonha alheia ultrapassa os limites do suportável no Brasil. Neste final de semana, ocorreu um caso desses – que foi agravado por algo que li nesta Segunda-feira, meio de feriadão. Vamos ao caso, começando pelo Sábado.
A Folha de São Paulo publicou uma reportagem ruim, muito ruim, fazendo uma denúncia falsa: o governo de SP, do tucano Geraldo Alckmin, estaria financiando um blogueiro para falar mal do PT. Eis aqui os principais trechos da “reportagem” (a íntegra do lixo está AQUI, mas fica o aviso: se você não gosta de colocar os pés na lama, evite):
Um blogueiro que distribui propaganda antipetista a milhares de seguidores na internet recebe há dois anos pagamentos mensais por serviços de comunicação prestados ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo.
Na rede, o advogado Fernando Gouveia se apresenta com o pseudônimo Gravataí Merengue e como “CEO”, ou executivo principal, do site Implicante, que publica e ajuda a difundir notícias, artigos, vídeos e memes contra o PT e a presidente Dilma Rousseff. O Implicante tem quase meio milhão de seguidores no Facebook, quatro vezes mais que o Movimento Brasil Livre, um dos grupos na linha de frente dos protestos de rua realizados contra Dilma neste ano. O material produzido pelo site costuma ser replicado nas redes sociais e por outros blogs políticos.Gouveia é dono da Appendix Consultoria. A empresa foi criada em janeiro de 2013 e começou em junho do mesmo ano a receber pagamentos oriundos da Subsecretaria de Comunicação do governo Alckmin, órgão vinculado à Casa Civil do Estado.
A Appendix foi subcontratada pela agência de publicidade Propeg, uma das três que cuidam da propaganda do governo estadual. De acordo com documentos oficiais, a empresa do blogueiro recebeu R$ 70 mil por mês de outubro de 2014 a março deste ano. O governo se recusou a informar o valor total dos pagamentos à empresa de Gouveia, alegando que a responsabilidade pela contratação da firma não é sua, mas da Propeg. A Subsecretaria de Comunicação permitiu apenas a consulta da documentação no Palácio dos Bandeirantes. Disponibilizou então 88 caixas, cada uma com centenas de papéis sobre propaganda oficial, sem indicar a localização das informações específicas da Appendix.
Segundo os documentos, a Propeg pagou a Appendix por serviços de “revisão, desenvolvimento e atualização das estruturas digitais” da Secretaria de Estado da Cultura. Em nota, a agência afirmou que subcontrata a Appendix para atender demandas do governo do Estado. Mas não respondeu quem indicou a empresa nem o motivo pelo qual recorre ao blogueiro em vez de fazer ela mesma o serviço.
Não seria preciso ser muito inteligente (ou tampouco honesto) para perceber os diversos erros da reportagem – e o resultado é uma reportagem FALSA, MENTIROSA, que escancara o baixíssimo nível de alguns jornalistas, empregados pelo maior jornal do Brasil (todavia, não se sabe por quanto tempo a Folha conseguirá manter esta posição, haja vista a quantidade de jornalistas incompetentes que ela tem em seus quadros hoje).
Dá vergonha!
Aliás, o nível de alguns “jornalistas” no geral, e alguns da Folha em particular, é de esgoto para baixo – não apenas intelectualmente, mas no quesito honestidade e coerência também.
Fica difícil saber, porém, se estes “jornalistas” que assinam a reportagem são apenas incompetentes e ignorantes ou se têm alguma motivação política, uma agenda a defender. Pessoalmente, acho absolutamente possível uma combinação dos dois fatores, mas por ora vamos tratar apenas da incompetência profissional. Nem mesmo seria preciso ser um especialista em gestão pública e/ou Administração; bastaria aos dois “jornalistas” um pouquinho de capacidade lógica de pensar e um mínimo de honestidade.
Em primeiro lugar: a reportagem não apresentou nenhuma denúncia que configure crime ou qualquer desvio legal. Foi feita uma licitação, uma empresa (Propeg) venceu a licitação oferecendo o menor preço e, depois, terceirizou alguma(s) atividade(s) – coisa que qualquer pessoa minimamente informada sobre o universo de prestação de serviços a entes governamentais sabe ser um padrão recorrente, que não possui NENHUMA ilegalidade. Se o edital da licitação e o posterior contrato firmado entre o Estado e a empresa ganhadora da licitação proibirem expressamente a terceirização ou subcontratação para uma parte ou para o todo da prestação de serviço, aí é outra coisa. Mas não parece ser este o caso.
Em segundo lugar, o Estado de SP não tem documentação dos pagamentos feitos à Appendix por uma razão muito simples: o governo não paga a Appendix. Se não percebem que isso faz toda a diferença, os “jornalistas” fingem ser muito burros ou são mesmo. A Appendix (que é uma empresa, e não um “blogueiro antipetista”) foi contratada por uma empresa que ganhou a licitação, e recebe, claro!, desta empresa – chamada Propeg. Com isso, fica provado que a Folha errou no título da matéria e também na chamada da capa (reproduzo abaixo): o governo não paga o “blogueiro antipetista” – o governo paga a empresa que ganhou a licitação. Será que precisa desenhar?
Em terceiro lugar, a preguiça dos jornalistas ultrapassa o limite do ridículo. Eles reconheceram, na matéria original, que o governo do Estado disponibilizou 88 caixas de documentos sobre as propagandas oficiais. Havia ali, portanto, uma excelente oportunidade para revisar todos estes documentos e, quem sabe, encontrar algo que realmente merecesse uma reportagem. Mas parece que os “jornalistas” tiveram preguiça demais para esta parte (árdua) do trabalho, e preferiram escrever como se o governo tivesse se recusado a prestar esclarecimentos. Os esclarecimentos foram dados, documentos (fartos!) foram disponibilizados, mas a preguiça falou mais alto. Que coisa vergonhosa!
Finalmente, será que a Folha abriu mão do cargo de EDITOR? Não havia um único editor no jornal para impedir a publicação de uma reportagem tão ruim, mentirosa, falsa? Ninguém no jornal poderia ter verificado que um lixo desses não tem a mínima condição de ser publicado?
O que aconteceu com as faculdades de jornalismo?
Que tipo de profissional elas estão oferecendo ao mercado?
E o mercado, contrata esses profissionais ruins por quê? Falta opção?
A Folha, especificamente, prefere contratar bandidos ao invés de contratar bons jornalistas:
Agora, um outro aspecto da reportagem mentirosa da Folha, mas que não pode ser ignorado: o político-partidário. A matéria da Folha tenta levar o leitor a acreditar que o governo do Estado de SP, administrado pelo PSDB, paga um blogueiro que tem um site antipetista. O pior é que a matéria tenta fazer parecer que o PSDB paga um blogueiro ESPECIFICAMENTE PARA falar mal do PT. Destaco este trecho da reportagem, com mais mentiras:
O envolvimento de Fernando Gouveia com a política é antigo. Ele trabalhou durante três anos no setor de comunicação da Prefeitura de São Paulo, na gestão da petista Marta Suplicy (2001-2004). Depois, ele trabalhou no gabinete da ex-vereadora Soninha Francine, que foi do PT e migrou para o PPS, partido alinhado com os tucanos.
A militância política de Gouveia na internet também é antiga. Em 2006, quando tinha um blog chamado Imprensa Marrom, ele foi condenado pela Justiça a pagar dez salários mínimos de indenização a uma empresa por ter publicado comentários ofensivos a ela. O blogueiro recorreu.
Gouveia também se apresenta na internet como colaborador de uma página chamada Reaçonaria, que difunde conteúdo similar ao do Implicante e tem cerca de 16 mil seguidores no Facebook. Os dois sites estão abrigados num servidor no exterior que impede a identificação do responsável pelos registros.
No próprio Sábado, o Fernando (a quem não conheço pessoalmente, mas acompanho desde o tempo em que ele tinha o site Imprensa Marrom) publicou os esclarecimentos AQUI. Hoje, mais um esclarecimento AQUI. Os “jornalistas” Ricardo Mendonça e Lucas Ferraz repetem o problema: ou são muito burros, ou mentem propositadamente (seja por algum eventual desvio de caráter, seja devido a uma agenda político-partidária que só beneficia o PT). Mais esclarecimentos foram publicados no Implicante (AQUI) e na Reaçonaria (AQUI, AQUI e AQUI). Vale a pena ler.
Este era o panorama até ontem. Hoje, porém, a Folha publicou mais isso aqui (clique para ampliar):
Fico muito feliz por ter cancelado minha assinatura da Folha há mais de 1 ano. Está absolutamente vergonhoso o baixíssimo nível dos textos que ela anda publicando – e o nível segue caindo ainda mais.
E, para finalizar, recomendo ao leitor, especialmente aquele interessado na cobertura que a imprensa brasileira faz da política, que acompanhe a cobertura da Reaçonaria: AQUI, AQUI e AQUI. Leitores novatos de jornais e revistas podem não perceber o quanto os jornalistas alteram e manipulam certos fatos para tentar fazer a relidade adaptar-se àquilo que eles (e seus partidos políticos “de coração”) desejam. E a Reaçonaria tem feito um excelente trabalho ao expôr isso. Viva a transparência!