Os equívocos da campanha #NãoMereçoSerEstuprada

Já começo reproduzindo matéria da Folha de hoje (íntegra aqui), com alguns grifos meus:

Desde que o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) assumiu, na última sexta-feira, um erro na pesquisa sobre violência contra mulher, houve um revés na campanha antiestupro difundida pelas redes sociais. Após o instituto corrigir de 65% para 26% a proporção de brasileiros que apoiam ataques a mulheres que mostram o corpo, a média diária de sites denunciados por incitação ao estupro diminuiu 98%, mostram dados da Safernet fornecidos à Folha.

A ONG monitora crimes e violações aos direitos humanos na internet em cooperação com o Ministério Público e a Polícia Federal. Nos nove dias entre a divulgação da pesquisa, em 27 de março, e a da errata, a organização recebeu 4.872 denúncias de sites pró-estupro, seis vezes mais do que o restante do mês de março. Nos últimos três dias, porém, quando o erro da pesquisa já era conhecido, a ONG recebeu só 31 queixas.

Thiago Tavares, presidente da Safernet, considera que apesar do equívoco “absurdo” do Ipea, a sociedade não deve menosprezar que um quarto dos brasileiros acha que mulheres merecem ser atacadas por seu modo de vestir. “Saímos do inacreditável [65%] para o inaceitável [26%]. A população precisa se conscientizar da necessidade de denunciar esses crimes e seus agressores” diz.

Para a especialista em pesquisas de opinião Fátima Pacheco Jordão, o erro numérico é secundário diante da repercussão da pesquisa. “A reação mostra que a sociedade e, em especial, as mulheres não acham que o problema é individual, mas sim estrutural, o que é passo muito importante para pararmos de culpabilizar as vítimas de estupro”, afirma.

Ativistas do #NãoMereçoSerEstuprada prometem continuar o movimento, que incentiva mulheres e homens a postarem fotos nas redes sociais com a mensagem da campanha. “Não tem errata que tire das mulheres o debate que se abriu. Ele continua, com as várias manifestações marcadas pelo país”, diz Nana Queiroz, criadora do movimento.

Eu não sei se estas pessoas ouvidas pela reportagem (Thiago Tavares, Fátima Pacheco Jordão, Nana Queiroz) são apenas burras, ou se estão falando essas bobagens por má-fé.

Quem menciona os números da pesquisa equivocada do IPEA e se refere aos tais 26% só pode ser muito (MUITO) burro, ou agir de má-fé. Não parece haver uma terceira via.

A pesquisa do IPEA estava TOTALMENTE ERRADA.

Totalmente.

Não sobra uma única vírgula daquela pesquisa que não merece a lata do lixo.

O ilustre Thiago Tavares, por exemplo: a reportagem escreveu que ele considera que apesar do equívoco “absurdo” do Ipea, a sociedade não deve menosprezar que um quarto dos brasileiros acha que mulheres merecem ser atacadas por seu modo de vestir. ‘Saímos do inacreditável [65%] para o inaceitável [26%]. A população precisa se conscientizar da necessidade de denunciar esses crimes e seus agressores’ diz”. Não, caro Thiago. Não é nada disso.

Deixa eu explicar de forma didática pra você.

O IPEA não perguntou se uma mulher DEVE/MERECE ser ESTUPRADA por causa das roupas que ela usa. A pergunta foi mal feita, e, portanto, é incapaz de auferir qual o percentual da amostra que concorda com essa afirmação. Esses 26% não significam NADA.

ENTENDEU OU DEVO DESENHAR?

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Como se não bastasse, o IPEA errou miseravelmente no cálculo da amostra.

NENHUM número produzido por esta pesquisa ridícula pode ser usado para generalizar qualquer conclusão sobre a população brasileira como um todo.

Como a dona Fátima Pacheco Jordão enfiou um “culpabilizar” na sua declaração, nem vou perder tempo comentando. Uma palavrinha dessas já demostra o nível intelectual (zero) da pessoa. Pior: foi caracterizada como “especialista em pesquisa de opinião” – mas está lá, “comentando” uma pesquisa furada.

Por seu turno, a terceira citação, da dona Nana Queiroz, é apenas inócua, vazia. Ela tem todo o direito de fazer a campanha que ela quiser enquanto (ainda) vivemos numa democracia (a despeito do PT). Isso não significa, todavia, que este movimento tenha QI acima de 2.

Estupro é crime, e deve ser punido sempre, no máximo rigor da lei.

Mas a campanha da dona Nana é burra. Não apenas por apoiar-se em premissas totalmente erradas (a equivocada e furadíssima pesquisa do IPEA), mas por não promover nada de novo. Dizer que a mulher não tem culpa pelo estupro é enaltecer o óbvio. É como dizer que o Sol é quente, que a chuva é molhada, que o PT é corruPTo ou que a Dilma é incomPTente.

E daí?

Finalmente, o mais importante. A tema central da reportagem é a queda das denúncias feitas à ONG.

Dizer que as denúncias deixaram de ser feitas POR CAUSA da correção da pesquisa do IPEA? A questão é que a pesquisa perdeu completamente a credibilidade (exceto para os muito muito burros ou para os de má-fé), e, com isso, muita gente que estava impressionada com os números “alarmantes” recobrou o bom senso.

Assim que foi divulgada a pesquisa do IPEA, houve histeria em massa. Depois, quando ficou demonstrado que estava tudo errado, as pessoas voltaram ao normal.

Mais uma razão pela qual a tal campanha da dona Nana é burra – porque apoiada num factóide derivado da histeria coletiva.

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